Michely Ciardulo

Como funciona a Terapia de Casal?

A terapia de casal se insere como uma ferramenta essencial na jornada de compreensão e fortalecimento dos vínculos afetivos. Neste contexto, mergulhamos nas profundezas da conjugalidade contemporânea, onde as influências familiares, expectativas sociais e dinâmicas inconscientes desempenham papéis fundamentais.

  • Explorando a Responsabilidade na Intimidade Emocional: Na terapia de casal, os parceiros são convidados a explorar suas responsabilidades na construção e manutenção da intimidade emocional, reconhecendo as influências de gênero e as expectativas sociais associadas (Nunan, 2003).

  •  Papeis de gênero: Na terapia de casal,  os casais são convidados a refletirem sobre questões relacionadas à sensação de perda de liberdade e sobre as diferenças de gênero, de acordo com as construções pessoais e sociais de cada um dos pares (Nunan, 2003).

  • Certezas Efêmeras: Dentro do contexto terapêutico, os casais são convidados a explorar suas expectativas em relação ao relacionamento, reconhecendo a natureza transitória das certezas e buscando construir uma base mais sólida de confiança mútua.

  • Investigando as Origens Familiares na Conjugalidade: A terapia de casal proporciona um espaço seguro para a exploração das influências familiares na dinâmica do relacionamento, permitindo que os parceiros compreendam e reconstruam padrões relacionais patológicos e ou adoecidos (McDougall, 1993).

  • Vínculos Inconscientes: A terapia de casal auxilia os casais a identificarem e explorarem os vínculos inconscientes que moldam suas interações, promovendo uma maior consciência e compreensão mútua de como conteúdos por vezes inconscientes se atualizam na relação (Eiguer, 1984).

  • Colusões e Expectativas Não Expressas: A terapia de casal abre espaço para a investigação das colusões (acordo secreto) e expectativas não expressas que podem gerar conflitos e ressentimentos, incentivando uma comunicação autêntica e empática entre os parceiros (Willi, 1978).

  • Espaço Transicional: Durante o processo terapêutico, os casais são encorajados a cultivar um espaço de exploração e crescimento mútuo, onde possam integrar suas realidades internas e externas de forma criativa e enriquecedora (Winnicott, 1971).

  • Transmissão Psíquica Geracional: A terapia de casal reconhece a importância da transmissão psíquica geracional na construção da identidade e dos padrões relacionais individuais, incentivando os parceiros a explorarem suas heranças familiares e a construírem narrativas mais conscientes e autênticas (Kaës, 1993).

A terapia de casal se revela como um espaço de exploração e transformação, onde os parceiros são convidados a navegar nas complexidades de suas relações, reconhecendo e integrando as influências do passado, as expectativas do presente e as aspirações para o futuro. Em meio às tempestades e às calmarias, a terapia de casal pode ser compreendida como uma espécie de farol, vai iluminando junto com o par amoroso, pontos obscuros, proporcionando novas narrativas e formas de se relacionar.

A terapia de casal não é exclusiva para casais casados; qualquer formato de relacionamento amoroso pode realizar terapia de casal.

  • O objetivo da terapia de casal não é separar nem unir o casal, mas sim promover uma compreensão mais profunda da relação.

  • Assim como na psicoterapia individual, a terapia de casal não busca direcionar o casal para uma decisão específica, mas sim explorar as questões subjacentes, insatisfações e queixas do par amoroso.
  • Fazer terapia de casal não é indicativo de uma relação falida; ao contrário, é um passo corajoso em direção a construção de novos recursos relacionais e conscientização de pontos conflituosos


Referência:

Féres-Carneiro, Terezinha. FAMÍLIA E CASAL: efeitos da contemporaneidade.

Por Michely Ciardulo

Como você tem lidado com seu Tempo?

Há quem diga que o bem mais precioso é o tempo!

Vivemos tentando a todo custo gerir o tempo, na esperança hde termos tempo para fazer mais coisas, muitas vezes sem nem saber quais são.

Ouvimos música assistindo séries, acompanhando as redes sociais, respondendo uma mensagem no WhatsApp, comendo alguma coisa, e quando falam conosco, respondemos “uhum” ou balançamos a cabeça como quem está prestando atenção em alguma coisa. “Ganha-se” tempo com o acumular das tarefas e não com a qualidade da presença.

Muitas mães questionam o tão apressado tempo que transforma seu bebê da noite para o dia em uma criança “independente”, andando sozinha pela casa.

Na infância desejamos ser adolescentes. Na adolescência, desejamos apressar o tempo e ter a liberdade de um adulto. Na vida adulta, sentimos saudade de quando éramos crianças, onde tudo parecia ser mais simples.

Na velhice, gostaríamos de ter mais tempo para as coisas que não tivemos tempo para perceber que eram importantes.

Estamos sempre insatisfeitos com o apressamento ou a lentidão do tempo. Frequentemente, nos perdemos em suas nuances, alheios à sua natureza fugaz e generosa. Esse tempo, tão valioso, escorre por entre nossos dedos sem que possamos detê-lo.

Para você, quanto tempo o tempo tem? O que você tem feito com o seu tempo?

Por Michely Ciardulo

Para ser dois, é preciso ser Um!

É preciso nos reconhecer como sujeitos desejantes, singulares e faltantes.

A relação que temos conosco é extremamente importante e dirá muito sobre como serão nossas relações com outras pessoas.

Se o sujeito não possui recursos mínimos para se relacionar de forma respeitosa e responsável consigo mesmo, muito provavelmente enfrentará grandes conflitos e angústias na relação com o outro.

Antes de sermos Dois, precisamos nos reconhecer como UM, validar nossos limites, sonhos, objetivos e história de vida, para então poder somar com o outro e nos tornarmos Dois.

Talvez pareça um pouco confuso, mas o primeiro relacionamento que devemos contruir e estar presentes é o relacionamento conosco mesmos; este é o primeiro passo para poder nos relacionar de forma saudável e prazerosa com um outro fora de nós.

Por Michely Ciardulo

Estabelecendo limites

Não podemos controlar como as pessoas irão nos tratar, quanto empatia, amor e respeito iremos receber, mas podemos estabelecer limites sobre o que iremos ou não aceitar.

Estabelecer limites é uma forma de validarmos nossos desejos e afetos

Podemos estabelecer limites no trabalho, e reconhecer até onde ser solícito com os nossos pares interfere na nossa saúde e sobrecarga de trabalho?

Podemos estabelecer limites nas relações amorosas e familiares, e procurar reconhecer e estabelecer um limite saudável de entrega para o outro.

Quando ultrapassamos nossos limites nos colocamos de forma submissa e não autência nas relações 

Muitas pessoas não acolhem seus limites e desejos, com a esperança de ser reconhecido (a), admirado(a) e amado(a), mas na verdade quando não reconhecemos e estabelecemos limites corremos o risco de não sermos tão valorizados e respeitados quanto desejamos, e isso pode desencadear sentimentos de baixa autoestima e frustação.

Estabelecer limites é um ato de amor próprio, de respeito e saúde!

Por Michely Ciardulo

Paixão e objeto fantasmático

O apaixonado projeta no objeto de sua paixão o ego ideal, forjado segundo o modelo onipotente do narcisismo infantil.

Lembremos que o amor primário é selvagem, quer devorar, possuir, controlar o objeto, negar qualquer diferença. Ao mesmo tempo, a plenitude do narcisismo primário exerce um fascínio, uma atração irresistível.

Ilusão de plenitude a ser reassegurada em um movimento compulsivo. Artigo: Relações amorosas: rupturas e elaborações
Podemos pensar esse objeto fantasmático, como algo ilusório, uma construção atravessada por construções incoscientes e regredidas

É esperado que exista uma certa fantasia ao se relacionar com o objeto amoroso e é esperado que isso ocorra. No entanto o artigo traz os inúmeros desdobramentos da idealização, do fusionamento e das relações com ideal de amor romântico.

Ideal esse que pode ser interpretado como: Existe um amor que irá me “salvar”, que dará conta das minhas faltas e que será perfeito.

Por Michely Ciardulo

Dependência emocional

Em muitos casos, nossas escolhas de parceiros amorosos são profundamente influenciadas por nossos modelos parentais, projeções e fantasias inconscientes. Buscamos no outro preencher lacunas e vazios, projetando nele a expectativa de completude e continência emocional.

No entanto, à medida que a relação se desenvolve, torna-se evidente que há uma diferença entre o parceiro real e o idealizado. Essa disparidade pode desencadear uma série de conflitos e desencontros, gerando grande sofrimento para ambos os parceiros.

A relação simbiótica, marcada pela idealização do amor e pela passividade, muitas vezes resulta em dependência emocional, trazendo prejuízos tanto para o indivíduo quanto para o relacionamento em si. Essas relações tendem a ser unilaterais e desconfortáveis, gerando sentimentos de insegurança, baixa autoestima, angústia e intenso sofrimento.

Alguns casais têm dificuldade em diferenciar-se; em muitas relações, o casal não sabe onde começa um e termina o outro, como se um fosse extensão do outro. Esse fusionamento além de despersonalizante e adoecedor, fragiliza a relação e aumenta a probabilidade de dependência emocional.

A entrega desmedida ao outro pode levar à perda da individualidade, autonomia e autenticidade do sujeito. É essencial que as relações sejam equilibradas, permitindo que o indivíduo se diferencie do outro sem causar grandes prejuízos ou sofrimentos.

Buscar ajuda psicoterapêutica pode ser fundamental para estabelecer relações mais saudáveis e equilibradas. Através do autoconhecimento e do estabelecimento de limites, é possível construir caminhos para relacionamentos mais maduros e satisfatórios.

Portanto, ao reconhecer a dinâmica da dependência emocional e buscar apoio adequado, é possível desenvolver relações mais autênticas e gratificantes, promovendo o bem-estar emocional e o crescimento pessoal.

Insegurança e baixa autoestima

“Como fica forte uma pessoa quando está segura de ser amada” – Sigmund Freud.

A autoestima, um aspecto central em nossas vidas, é profundamente influenciada pelas interações familiares e sociais desde os primeiros anos de vida. Como destacado por Sigmund Freud, a sensação de segurança emocional proporcionada pelo amor e cuidado dos cuidadores é fundamental para o desenvolvimento da autoestima. Essa ideia ressoa com a perspectiva de Winnicott, que enfatiza a importância da dependência inicial do bebê em relação ao ambiente, especialmente à figura materna, como base para a construção da autoimagem e confiança.

No entanto, quando as experiências familiares são marcadas por rejeição, negligência ou crítica, como sugerido por Freud, podem surgir feridas na autoestima que ecoam por toda uma vida.

Além disso, a teoria do apego de Bowlby complementa essa compreensão, destacando a importância dos primeiros vínculos emocionais seguros na formação da autoestima e na capacidade de regular emoções ao longo da vida. Os relacionamentos de apego seguro proporcionam uma base sólida para o desenvolvimento emocional e social, como também observado por Winnicott.

Portanto, ao reconhecer a interconexão entre os insights de Freud, Winnicott e Bowlby, podemos compreender melhor o papel das relações familiares e do ambiente na construção da autoestima e no desenvolvimento humano como um todo. Essa perspectiva integrada nos leva a valorizar a importância das primeiras interações sociais e familiares na formação da identidade e do bem-estar do sujeito

Compreender a autoestima como uma construção social e familiar é essencial para promover um “Eu” seguro e maduro. A partir dessas interações, desenvolvemos recursos que nos capacitam a estabelecer relacionamentos saudáveis, definir limites e buscar uma vida mais prazerosa e autêntica. 

Ansiedade

A ansiedade então é, em primeiro lugar, algo que se sente (Freud 1925-1926)

A ansiedade, conforme delineado pelos ensinamentos de Freud, emerge como um sinal de alerta intrínseco ao ego diante da iminência de uma situação traumática. Esta percepção de ameaça, muitas vezes associada à separação ou perda de um objeto amado, instaura um estado de desamparo psíquico, desencadeando uma série de reações defensivas. O ego, então, mobiliza estratégias para lidar com essa ansiedade, buscando evitar ou se distanciar da situação percebida como perigosa.

No âmago da ansiedade reside um estado afetivo carregado de desprazer, que se distingue por sua intrínseca relação com a expectativa e pela falta de um objeto claro. Enquanto outros sentimentos desagradáveis, como tensão, dor ou luto, possuem características específicas, a ansiedade se destaca por sua natureza expectante e seu vínculo com o perigo iminente.

Ainda que originada como resposta a um estado de perigo, a ansiedade pode ser reativada sempre que situações semelhantes se reproduzem. Trata-se de um fenômeno afetivo sentido de forma exclusiva pelo ego, que se vê confrontado com sua própria vulnerabilidade diante das ameaças percebidas. Essa vulnerabilidade é inerente à natureza humana, emergindo diretamente da libido e evidenciando a complexidade da dinâmica psíquica.

Nesse sentido, a psicanálise oferece não apenas uma compreensão teórica da ansiedade, mas também ferramentas clínicas para seu manejo e transformação. Ao acolhermos e nos responsabilizarmos por aquilo que é possível, reconhecemos os limites do controle e nos abrimos para uma relação mais saudável com as incertezas da vida.

Morte e Luto

A experiência da morte e do luto é tão multifacetada quanto a própria vida. Enfrentamos diversas formas de perdas ao longo do caminho – desde términos de relacionamento, despedidas de empregos até a partida de animais de estimação, e o doloroso adeus a entes queridos.

Como Colin Murray Parkes tão eloquentemente expressou, “o luto é o preço do amor”. Na perspectiva psicanalítica, a dor da perda é entendida como uma expressão do vínculo emocional profundo que mantemos com aqueles que amamos. Cada lágrima derramada representa não apenas a saudade, mas também a continuidade do vínculo afetivo com o ente perdido, evidenciando os laços emocionais que persistem além da morte.

Além disso, como Ana Claudia Quintana Arantes ressaltou em seu livro “A Morte é um dia que vale a pena viver”, só existe morte porque antes existiu vida.

A psicanálise nos ensina que a perda não é apenas uma ausência, mas também uma presença persistente na psique do enlutado, que continua a interagir com as memórias e os afetos pelo ente querido ausente.

A forma de lidar com o luto é profundamente pessoal e subjetiva, a psicanalítica enfatiza a importância de permitir a expressão genuína das emoções associadas à perda. Reconhecer e explorar as emoções de tristeza, raiva, culpa e saudade é fundamental para o processo de elaboração do luto, permitindo ao enlutado confrontar e integrar as complexidades de seus sentimentos em um contexto terapêutico.

A psicoterapia fornece um espaço seguro para que o enlutado explore suas emoções e significados associados à perda, facilitando assim o processo de adaptação e reinventar uma forma outra de viver a partir do luto.

Depressão

A psicanálise oferece uma compreensão profunda e multifacetada da depressão, explorando suas origens emocionais, psicológicas e suas manifestações na vida do sujeito. Como mencionado por Christian Dunker em “Uma biografia da depressão”, a experiência depressiva é caracterizada por sentimentos de inferioridade, rebaixamento da autoestima e uma sensação de que algo está errado no modo como o amor é metabolizado, levando à autocrítica, infantilização e culpa.

A psicanálise procura observar as raízes da depressão, validando as experiências subjetivas do sujeito, traumas, conflitos não resolvidos e contextos familiares e sociais que possam contribuir para o quadro depressivo. A psicoterapia auxilia o sujeito a refletir sobre esses elementos, buscando a elaboração, nomeação e reconhecimento de conteúdos traumáticos, e o desenvolvimento da depressão ao longo do tempo.

Um aspecto central da psicanálise é a relação terapêutica entre o analista e o paciente. Em um ambiente seguro e de confiança, o sujeito é encorajado a compartilhar seus sentimentos e afetos mais profundos, sem medo de julgamento. Essa relação proporciona suporte emocional, validação e um espaço para a expressão de conteúdos, mesmo os mais difíceis.

Além disso, a psicanálise busca trazer à luz os aspectos inconscientes do sujeito, como conteúdos recalcados, desejos e conflitos não elaborados e não integrados. Ao acessar em alguma medida esses conteúdos, o sujeito pode começar a ter notícias e alguma compreensão sobre sua forma de ser e estar no mundo, nas relações e como tudo isso pode se relacionar com o quadro depressivo.

A psicoterapia psicanalítica colabora para explorar conflitos internos, medos e angústias que podem contribuir para a depressão. Ao compreender esses conflitos e suas origens, o sujeito pode gradativamente construir formas outras para lidar com seus afetos de maneira menos dolorosa, menos depreciativa, com um olhar mais amistoso para si mesmo e seu existir.