Michely Ciardulo

Violência doméstica

A violência doméstica é uma realidade trágica que afeta milhares de mulheres em todo o mundo, deixando marcas profundas em sua saúde física, emocional e psicológica. A Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, é um importante instrumento legal que busca prevenir e coibir esse tipo de violência, reconhecendo a necessidade de proteger os direitos das mulheres e garantir-lhes uma vida livre de abusos.

Diante dessa realidade, é crucial destacar o papel fundamental da terapia psicanalítica como um recurso valioso para mulheres que enfrentam situações de violência e vulnerabilidade. Aqui estão alguns dos benefícios que a psicoterapia de orientação psicanalítica pode proporcionar:

  • Identificação de fragilidades e potencialidades: A terapia psicanalítica busca explorar o mundo interior das mulheres, incluindo seus conflitos, traumas e fantasias inconscientes. Ao trazer à tona conteúdos reprimidos e não resolvidos, a psicoterapia busca  auxiliar as mulheres a compreenderem as origens de seus padrões de relacionamento e comportamento, permitindo que elas tenham maior compreensão das origens e lugares que a relação ocupa ou ocupava em sua vida, bem como identificação de fragilidades e potencialidades da própria mulher.
  • Identidade e Autoestima: A violência doméstica muitas vezes resulta em danos profundos à autoestima e à identidade das mulheres. Através da terapia psicanalítica, as mulheres podem explorar e reconstruir sua identidade perdida, fortalecendo sua autoestima e confiança em si mesmas.

  • Relações Objetais: A psicoterapia  psicanalítica enfoca as relações objetais, ou seja, as formas como homens e mulheres se relacionam com os outros e consigo. A psicoterapia  auxilia as mulheres a compreenderem como seus relacionamentos passados e presentes influenciam suas percepções de si mesmas e dos outros, promovendo uma maior consciência e liberdade de escolha.

  • Transformação dos Padrões Relacionais: Ao trabalhar com os padrões relacionais inconscientes, a terapia psicanalítica possibilita que as mulheres reconheçam e modifiquem padrões de comportamento adoecidos, promovendo relacionamentos mais saudáveis e satisfatórios.

  • Elaborando Traumas: Muitas mulheres que vivenciam violência doméstica enfrentam traumas significativos que podem continuar a afetar sua vida , relações, trabalho etc. A terapia psicanalítica oferece um espaço seguro e especializado para uma possível elaboração do trauma, permitindo que as mulheres integrem essas experiências dolorosas em sua narrativa de vida e encontrem uma maior sensação de” apaziguamento” da angústia e dores que a vivência traumática possa ter provocado.

Em resumo, a terapia psicanalítica oferece uma abordagem profunda para as demandas de mulheres que vivem e/ou viveram violência doméstica, promovendo o autoconhecimento, a transformação pessoal e a elaboração de afetos dolorosos, possibilitando reconstruir sua identidade, fortalecer sua autoestima e desenvolver relacionamentos mais saudáveis e gratificantes.

Quando o sofrimento parece não ter fim

O mito de Sísifo, interpretado à luz das ideias de Albert Camus e Sigmund Freud, oferece uma perspectiva intrigante sobre como algumas pessoas se encontram aprisionadas aos seus próprios sintomas, repetindo-os incessantemente como Sísifo carrega sua pedra.

Camus enxerga Sísifo como um símbolo do absurdo da existência, onde a repetição da tarefa reflete a busca incessante por sentido em um mundo aparentemente sem propósito. Analogamente, muitas pessoas parecem presas em um ciclo semelhante, repetindo e mantendo-se ligadas a fontes de sofrimento, como se estivessem carregando suas próprias pedras morro acima, apenas para vê-las rolar de volta.

Para Freud, a persistência no sofrimento pode ser entendida como uma forma de repetição inconsciente de experiências dolorosas do passado, não elaboradas e aspectos não integrados. Assim como Sísifo retorna repetidamente à sua tarefa, algumas pessoas repetem seus sintomas como uma maneira de lidar com traumas e conteúdos conflituosos.

Às vezes o sintoma é tudo que o sujeito possui

Ao refletirmos sobre o mito de Sísifo, somos convidados a examinar nossa própria relação com o sofrimento e a tarefa árdua e inconsciente de mantê-los em seu exato lugar.

É possível que ao reconhecermos nossas próprias pedras, possamos encontrar uma maneira possível não de exterminar o sintoma, mas de viver uma vida mais aderente ao que desejamos, às vezes negociando, às vezes elaborando

Por Michely Ciardulo

Terapia de casal

O recente levantamento do IBGE ilumina um cenário onde os divórcios no Brasil aumentaram em 8,6% em 2022, alcançando 420.039 casos. Notavelmente, 47,7% desses divórcios ocorreram em uniões de até uma década, refletindo um aumento considerável desde os 37,4% registrados em 2010. Paralelamente, a idade média para se divorciar avançou, com homens e mulheres se separando aos 44 e 41 anos, respectivamente. Diante dessa realidade, surge a terapia de casal como um instrumento valioso, capaz de oferecer estratégias para a resolução de conflitos e aprimoramento da comunicação conjugal.

Em um contexto onde o matrimônio acontece mais tarde e o término mais cedo, a terapia de casal destaca-se por promover um entendimento mais profundo das dinâmicas relacionais. Diferente de buscar unir ou separar, o foco é na exploração das interações do casal, facilitando a identificação de emoções e desejos, o que fundamenta decisões mais conscientes sobre a continuidade da relação. Este processo é um reflexo de uma abordagem moderna e consciente frente aos desafios conjugais, em harmonia com as mudanças sociais atuais.

A psicoterapia de orientação psicanalítica aprofunda-se no inconsciente conjugal, um território compartilhado repleto de afetos, tensões e mecanismos de defesa. Ela busca iluminar as origens inconscientes da relação, a escolha amorosa e os conflitos vigentes, visando o restabelecimento do equilíbrio entre os vínculos narcísicos e objetais, a redução das identificações projetivas, e a conversão dos não-ditos em diálogo. Tal processo permite que cada parceiro recupere o que foi projetado no outro, transformando a relação de um sintoma das patologias individuais para um espaço de crescimento mútuo e compreensão

Equilibrando os pratos da vida

Na vida contemporânea, somos como malabaristas de pratos, constantemente equilibrando várias demandas.

A citação de Freud, “Nós poderíamos ser muito melhores se não quiséssemos ser tão bons”, ressalta nossa busca incessante pela perfeição, levando-nos a sacrificar nosso bem-estar em nome das expectativas sociais e profissionais.

A vida no tempo do “Outro”

O tempo do sujeito muitas vezes se confunde com o tempo do outro, onde até as atividades autênticas, como cuidar de si mesmo, se tornam meras tarefas a serem cumpridas. Essa pressão externa gera conflitos psíquicos, exaustão, perda de sentido e ansiedade.

“Todo munda dá conta”

Existe uma pressão social para que todos sejam bem-sucedidos e felizes, o que pode ser esmagador. Ainda assim, receitas prontas e respostas generalistas tomam conta dos discursos sociais.

Adoecimento saudável

Parece que todos “sabem” o que devem fazer para viver uma vida “plena”, mas isso nem sempre é verdadeiro. O autocuidado muitas vezes é transformado em uma lista de tarefas impossíveis de cumprir.

Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz.
Freud

A psicoterapia de orientação psicanalítica nos proporciona uma compreensão mínima de nossos conflitos internos, abrindo caminho para uma existência mais autêntica e mais ou menos alinhada com nossos desejos e limites.

Por Michely Ciardulo